terça-feira, 29 de abril de 2014

SEM VESTÍGIO DE DOR






aprisionada no campo magnético do medo, sentia as dores crónicas no corpo e na alma...

tolhida, procurava toda a sorte de mezinhas medicinais, que achava poderem coadjuvar os químicos farmacêuticos que coleccionava num armário da cozinha, todos prescritos por especialistas médicos escolhidos a dedo ou recomendados por amigas que sofriam do mesmo mal...

há muito que se resignara à sua cruz, da qual fazia porta estandarte quando, às quintas-feiras, se reunia com as companheiras de tormentos mil, num desfiar de rosários dolorosos...

mal se escutavam, pois o falar pessoal era monólogo conjunto, em meios dos bolinhos, scones e do tilintar metálico das colheres com açúcar mascavado rodando ritmadamente nas chávenas de porcelana fina.

um dia, por aparente acaso, aproximou-se de si uma menina de olhar profundo, ao mesmo tempo doce e brilhante, caracóis alvos e suaves a descerem pelas costas...

tocou-lhe no braço ao de leve, mas o toque fê-la estremecer, roubando-a ao seu crónico torpor...

olharam-se nos olhos, enquanto os monólogos das amigas pareciam perder o som e o tempo ficar em suspenso...

e filmes de outrora surgiram naquele olhar inocente que a fixava... ela de novo, com os seus próprios caracóis despreocupados ao sol do Verão da infância... em casa da avó materna...

levantou-se, deixando-se levar, confiante e sem medo...

e afastaram-se de mãos dadas... caminhando... sem vestígio de qualquer dor!

lúcia*


sábado, 26 de abril de 2014

APENAS O PRESENTE É INFINITO




é o tempo, esse paradoxal eterno-agora, que se encarrega de dar novos lugares às coisas...

novos sentidos...

novos quereres...

novas cores...

novas emoções...

novos nós-mesmos!

lúcia*


Imagem: andrey remnev


terça-feira, 22 de abril de 2014

SOBRE A VIVÊNCIA DA CRISE




se o quisermos, e a isso estivermos predispostos, toda a crise encerra um potencial evolutivo e a oportunidade de alinhar a personalidade com a alma...

para isso é necessário permanecer em observação e atenção plena...

dar-se conta da reacção emocional costumeira e dos "velhos" hábitos e comportamentos automáticos e já obsoletos em termos de validade...

respirar a tentação de fazer igual...

silenciar a voz auto-crítica...

dando espaço à compreensão e à possibilidade de novas formas de estar e fazer, mais alicerçadas na voz interior e menos na zona de conforto castradora.

lúcia*

imagem: "Look at the bright side of life"

sexta-feira, 18 de abril de 2014

UM DIA VENTOSO NA COSTA




não imagine!

espere...

flua...

confie...

e deixe as coisas tomarem o seu próprio curso.

lúcia*



quinta-feira, 17 de abril de 2014

sobre a NAUSICAA de Frederic Leighton (1878)




outrora filha de Reis...

resgatadora de soberano náufrago sob a ira de Poseídon... um  frágil Ulisses caído a seus pés na areia da praia da ilha de Esquéria...

seguidora dos sonhos de Atena, 

de seu nome Nausicaa, incendiadora de corações, mais do que de navios (conforme a etimologia do seu nome em grego).

eterna amante e viajante do tempo,

hesitava agora, docemente, entre a mais pura malícia e um pudor inesperado...

alma e corpo pediam-lhe coisas diferentes... 

ou nem tanto?!

lúcia*



quarta-feira, 16 de abril de 2014

NA FRONTEIRA DO SENTIR



Olhava amiúde para dentro de si...

e começava a sentir que podia desfazer-se da raiva, deixar ir o ciúme e também a inveja... e que isso não a deixaria diminuída, nem vulnerável, como tanto receava...

ao contrário, soltar a emoção dolorosa, era como soltar a pele exterior, abrindo-se a um novo sentir, a um novo estar, a um novo ser...

soltar a emoção defensiva parecia, afinal, deixá-la mais centrada, mais alicerçada na essência e menos no ego.

Olhava amiúde para dentro de si... 

e percorria agora a lentidão do caminho, sem pressas...

sentindo, finalmente, ter toda a eternidade.

lúcia*



domingo, 13 de abril de 2014

DIÁLOGO IMAGINÁRIO... o sair da resposta automática




"desculpa, estou a ouvir-te sim, a escutar com toda a atenção...

ainda não te respondi porque, agora, estava a escutar o meu coração!"

lúcia*


sexta-feira, 11 de abril de 2014

SINTO O DESAPEGO COMO A ANTÍTESE DO DOGMA




ao contrário do que possa parecer:

Desapego

não é dissociação... não é isolamento,

não é apagar o sentir, nem embalsamar as emoções...

é envolvimento, é intimidade, é estar em presença... talvez não com as expectativas, mas com as coisas como elas são! com a realidade!

e viver no presente as coisas como são, implica uma multiplicidade de sentires... implica estar aberto, receptivo ao novo... atento... sem amarras!

lúcia*


imagem: Kittiwut Chuamrassamee

terça-feira, 8 de abril de 2014

SOBRE AS ANJAS...




Dizia Ibn El-Arabi que "Os Anjos são os poderes escondidos nas faculdades e nos órgãos do Homem."

palpita-me que as ANJAS são a génese de todo esse processo...

filhas da Deusa-Mãe...

o princípio feminino co-criador...

o humus da terra fértil...

o eterno fogo vital...

a chispa multidimensional...

doces e serenas, congregam a luz da lua com as emoções humanas...

abrindo caminho à passagem da Alma...

com só batendo as Asas... ao de leve!

lúcia*


Imagem: Stuart de Carvalhais

sexta-feira, 4 de abril de 2014

DA ORIGEM DO VAZIO



Tinha medo de ficar sozinha... tinha medo do vazio de dentro!

Até descobrir que o vazio não é de dentro... e sim de fora!

lúcia*


SOBRE A QUIETUDE




aprende a aquietar o corpo e a mente pois, no mesmo instante em que cessa o movimento, começa a sentir-se a presença do Infinito... 

da Eternidade... 

de Deus...

lúcia*

quinta-feira, 3 de abril de 2014

CRISE... E TERAPIA TRANSPESSOAL





Sinto e vivencio a Terapia Transpessoal como uma Viagem Interior às memórias, sentimentos, emoções, recursos individuais, sombras e luzes, pois toda a perturbação pessoal (Medos e Dúvidas, Depressão, Crise Existencial, Fobia, Crise de Pânico, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Bulimia, Doença Psicossomática...) constitui um sinal de alerta, mas também um Caminho para a solução, na conexão com a nossa Consciência Alargada e o nosso Curador Interior.

Curiosamente, a expressão "crise" deriva da palavra grega krisis, que significa "decisão" e deriva do verbo krino, que quer dizer "eu decido, separo, julgo".

A intervenção na crise aumenta, assim, a possibilidade de crescimento de novas capacidades de resolução, reforçando a busca de novas opções e perspectivas de vida.

Logo, toda a crise encerra em si mesma um potencial evolutivo.

Dizia Oliver Wendell Holmes que "A mente do homem, estendida até uma nova ideia, já não regressa às suas dimensões originais".

Concordo plenamente!

lúcia*